sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

OPINIÃO

Com três anos de vivência em Alta Floresta, como mãe, cidadã, pesquisadora e conhecida “professora da UNEMAT”, paro por alguns minutos minha atividade rotineira para dialogar com você sobre meu ponto de vista em relação à resposta da universidade às problemáticas sociais e ambientais da região.

Essa reflexão parte das minhas indagações quanto ao papel da universidade como instituição na qual se aposta o alavanque do desenvolvimento regional. Alta Floresta, digo sempre, é o centro de debates ambientais de Mato Grosso. Na prática temos aqui um evento por semana, seja ele seminário, fórum, congresso ou mesmo uma reunião, em que se discute o desenvolvimento regional frente aos desafios socioambientais. Daí nasce minha pergunta: O que temos feito enquanto universidade?

Não quero falar do ensino superior neste momento, principalmente porque tocar nesse tema me tomaria muito espaço nesta página. Quero falar da pesquisa científica. Entendo que a pesquisa tem papel muito mais profundo e radical do que a comunicação em revistas científicas.

Subordinar nossa produção de conhecimento apenas a periódicos significa excluir a comunidade do conhecimento produzido aqui em nossa universidade. Mais do que isso, significa reproduzir um velho sistema em que a pesquisa se mantém a serviço do capital e serve para ocultar o compromisso social da universidade.

Não podemos fazer, num processo de investigação, levantamentos desinteressados de dados para depois simplesmente publicá-los. Especialmente porque acreditar na neutralidade da ciência significa jogar fora anos de pesquisa sociológica na área. Pedro Demo, em suas sábias palavras nos diz que “as comunidades não precisam apenas de estudar seus problemas, precisam, sobretudo, de enfrentá-los e resolvê-los”. E o comprometimento da universidade neste enfrentamento e resolução vai além, em minha opinião, de pesquisa e de ações pontuais da extensão universitária. É aqui que quero chegar, na responsabilidade social da universidade em um processo comprometido, contínuo e participativo, não “cego”, fragmentado e assistencialista.

Embora em menor número e com muito a aprender, temos nos empenhado para pôr nossas palavras em prática. O envolvimento dos acadêmicos em atividades de formação-pesquisa-ação tem nos proporcionado desmedida satisfação, especialmente por estarmos construindo conhecimento, formando cidadãos engajados com as causas regionais (socioambientais, econômicas, etc.), e, sobretudo contribuindo com a melhoria da qualidade de vida das comunidades.

O projeto “Vila Rural I”, nascido na UNEMAT na área da saúde ambiental e inserido em demandas de disciplinas específicas e na preocupação de um grupo de professores-pesquisadores com a emancipação de sujeitos, especialmente do campo, é o primeiro passo que damos visando incorporar ações às nossas pesquisas.

Começamos com a aplicação de questionários, ação trivial neste tipo de pesquisa. Queríamos conhecer as condições sanitárias e alimentares de famílias que compõem a Comunidade. Também neste primeiro momento, os alunos da disciplina de Parasitologia, do Curso de Biologia, coletaram amostras de fezes e fizeram os exames parasitológicos.

Acadêmicos da disciplina de Bioquímica, do curso de Agronomia, orientados pela Profa. Elaine Dutra, levantaram as características alimentares. Finalizada esta etapa, veio o momento da devolutiva. As famílias receberam os resultados do diagnóstico parasitológico e foram sensibilizadas quanto aos cuidados sanitários. Alunos da disciplina de Fisiologia Animal, da Biologia, sob orientação da Profa. Gerlane Costa, falaram sobre os cuidados com a alimentação, sobre o excesso de gordura animal nas dietas e sensibilizaram quanto às carências nutricionais. Este momento foi o estopim de um projeto muito maior...

Em 2010 começaremos uma etapa participativa que se propõe a “perceber como a comunidade se percebe”. Partimos do pressuposto que conseguiremos melhor contribuir com a melhoria da saúde da comunidade com ações coletivas em quais atrelamos o saber científico ao saber popular, incentivamos a comunicação e tornamos os cuidados com a saúde o assunto da comunidade.

Assim, numa perspectiva de investigação e de ação participativas, empregamos a pesquisa como instrumento de participação social e de construção coletiva de respostas para as problemáticas sociais e ambientais locais. Ambientais porque não conseguimos visualizar a saúde e o meio ambiente de forma fragmentada, mas sim em uma interação complexa.

Contudo, há um aspecto maior a toda esta questão. Não conseguiremos impacto na melhoria da qualidade de vida, agindo somente na saúde, ambiente e na educação. Precisamos melhorar economicamente a vida daquelas pessoas (e com elas, não para elas). É neste sentido que abrimos nossas portas a solidários, para vir compor conosco uma equipe de pesquisa-ação participativa e de abordagem sistêmica, pela melhoria das condições de vida daquelas queridas pessoas. Como me escreveu Felipe Sakamoto Vieira, aluno do 7º semestre – Biologia: Essa é uma “oportunidade de poder ajudar as pessoas, e ainda pessoas tão humildes e simpáticas...”.

É um primeiro passo, já estamos muito felizes. Esperamos estar contribuindo com desenvolvimento regional, justo e solidário.

Meus parabéns à equipe e aos moradores da Vila Rural I, muito obrigada! No próximo ano estaremos com todos vocês.

Profa. Marla Weihs
Departamento de Ciências Biológicas – UNEMAT
marla@unemat.br

Um comentário:

  1. Isso aí, professora, continue plantando solidariedade e cidadania nos corações das pessoas...bjuss e foi mto bom participar deste projeto...

    Reysi

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