domingo, 8 de janeiro de 2012

Não, não creio em mim.

O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.

sábado, 3 de julho de 2010

O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo
Contra uma parede nua...
Sentou-se ...e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Gloria,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E então a Morte,
Ao vê-lo tao sozinho aquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali a sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se ate não morreu feliz: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!


Mário Quintana

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

« Jamais je n’ai pu concevoir l’éducation sans amour »
Paulo Freire

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O Carnaval brasileiro na França

Há semanas não escrevo para o blog... Estou em Toulouse, sul da França, e me concedi alguns dias para entender este país.
Diariamente leio o jornal do metrô, que, embora apresente certa “tendência”, me mantém atualizada. À noite assisto aos telejornais. Considerando, claro, o percentual do que entendo do francês!!!
São três redes de TV públicas e cada uma à sua maneira discretamente nos diz que a França é o “melhor lugar do mundo”.
Há duas semanas assisti uma rica matéria sobre a América do Sul. Uma abordagem crítica e bastante interessante. Nossos problemas sociais foram ricamente abordados, tendo como pano de fundo o debate do MST. Me surpreendi ao assistir na França o que pouca vezes (para não dizer nunca) tive a oportunidade de ver na TV brasileira.
Em outra matéria, vi como são explorados os trabalhadores nas lavouras de laranja, no interior de São Paulo. Os laranjais que produzem os sucos que os alemães adoram!!!
Além disso, não ouvi falar mais nada do Brasil na TV. Talvez seja até interessante. Assim, pelo menos, a França não fica sabendo que é Arruda!
Bom... Continuei ansiosa em ouvir ou ler algo de positivo sobre Brasil, na Europa. Hoje saiu no jornal (o meu jornal diário do metrô) uma reportagem sobre o carnaval. Fiquei curiosíssima. Peguei o folhetim e li na praça, parada em meio ao movimento de pessoas e sob o forte frio do inverno europeu.
A matéria trás um rápido resumo o que é o desfile das escolas de samba no Rio. Em um segundo subtítulo fala de uma « petite reine », referindo-se à rainha da bateria da escola Unidos do Viradouro, de apenas 7 anos. Segundo o jornal o desfile da “petite reine” envolve uma polêmica: a forte conotação sexual do carnaval. Fechando a matéria o folhetim esclarece que o governo mobilizou 7000 policiais para garantir a máxima segurança na cidade.
A matéria trás uma grande fotografia com a garota Julia Lira e, ao todo, não representa 50% de uma folha do pequeno jornal. Me chamou a atenção a distribuição das informações. Introdução: um mapa do Brasil e a apresentação do que é o carnaval e como se organiza. Beleza! Os franceses pouco sabem sobre nosso carnaval. Mas o que mais chama atenção são as informações seguintes. O foco sexual do carnaval e o esclarecimento sobre a necessidade de forte policiamento.
Diante da posição dos autores da matéria, minha sociologia de bar me permitiu algumas indagações. Dentre elas: Qual é o ângulo escolhido para se olhar nosso país?
Nos próximos dias continuarei tentando entender a França. Já há o que me fascine!!!! Mas, principalmente, tentarei olhar com “outros olhos”. Talvez consiga perceber melhor o ângulo que eles nos olham...

...










La Garrone
La Place du Capitole

Journal de Toulouse (16 février 2010)

Julie Lira, 7 ans à peine et déjà reine du carnaval de Rio.

Oubliant un temps la polémique autour de son jeune âge, la reine du carnaval de Rio, de l'école de samba de Viradouro, Julia Lira, 7 ans, a dansé avant-hier ors du défilé du carnaval.
Certains estimaient choquant qu'une fillete incarne la reine du carnaval, icône réputée pour ses charmes. Quelques instants auparavant, ele avait craqué devant les objectifs des photographes, se pleurs dans les bras de sa mère.
Não entendo.
Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado.

Mas não entender pode não ter fronteiras.

Sinto que sou muito mais
completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito.

O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha, como ter loucura
sem ser doida.

É um desinteresse manso,
é uma doçura de burrice.

Só que de vez em quando vem a inquietação:
quero entender um pouco. Não demais:
mas pelo menos entender que não entendo.

Clarice Lispector

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

"Se possuísses toda a prudência, todo o saber dos antigos, mas te faltasse a humildade, faltar-te-ia tudo, e continuarias a ser o homem mais desprezível da Terra."

CONFÚCIO